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Futuro da governança passa por reforço de ESG e maior flexibilidade

Ex-presidentes do conselho do IBGC debatem as implicações da crise e o papel dos conselheiros num mundo sob um novo normal

 

Data: 16 de abril de 2020, das 8h30min às 9h45min

Local: Site do IBGC – www.ibgc.org.br/eventos

Webinar completo: CLIQUE AQUI

 

A crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus para as empresas reforçou a importância de alguns conceitos fundamentais da governança corporativa. Ao lado da ética — ainda mais indispensável neste momento —, ganham especial significado honestidade, integridade, responsabilidade, independência, visão de longo prazo e cidadania corporativa. “A situação atual nos leva a questionar qual o papel da governança para a navegação durante a turbulência e para a preparação para o D+1, o pós-crise”, destacou o presidente do conselho de administração do IBGC, Henrique Luz, na abertura do webinar “O futuro da governança corporativa no Brasil”, promovido pelo instituto no dia 16 de abril.

Para um debate amplo sobre o tema, Luz mediou uma conversa entre quatro ex-presidentes do conselho de administração do instituto: José Guimarães Monforte, diretor da Emax Consultoria e Negócios, presidente do conselho da Eletrobras e conselheiro da Cyrela e do Banco do Brasil; Sandra Guerra, fundadora da Better Governance e conselheira de administração; Emilio Carazzai, conselheiro e sócio sênior da Quadrivium Corporate Advisory; e Ricardo Setubal, conselheiro da Duratex. Cerca de 300 pessoas acompanharam ao vivo a transmissão, pelo canal do IBGC no YouTube.

Com visões e experiências complementares, os palestrantes concordaram na relevância de alguns pontos. Primeiro: a crise acelerou a necessidade de real atenção das empresas aos tão falados princípios ESG (sigla em inglês para fatores sociais, ambientais e de governança). “A evolução recente desses princípios ficou ainda mais acelerada com a crise. É necessário que se revisitem descrições de processos decisórios para se ter certeza da adoção do filtro ESG. O escopo solidário das empresas deve ir além da doação”, observou Monforte. “A situação atual é a prova de como as empresas estão lidando de fato com ESG”, reforçou Guerra. Na avaliação de Setubal, o sucesso passa a estar associado ao bem-estar das pessoas, o que reforça o compromisso das empresas com o desenvolvimento responsável. “É preciso agora revisitar valores”, acrescentou Carazzai.

O segundo ponto pode ser resumido em uma palavra-chave: flexibilidade, que vale tanto para a atuação das empresas no nível operacional quanto para os conselhos de administração no desenho das estratégias neste momento de crise. Como observou Guerra, a própria adaptação maciça e repentina ao trabalho remoto — que obrigou muitas pessoas a se acostumar ao uso e à dinâmica das plataformas virtuais — é uma evidência do imperativo da flexibilidade. Para Monforte, a crise nos reforçou a consciência da imprevisibilidade. “Nesse novo contexto não há espaço para o excesso de rigidez, que pode paralisar processos. A própria CVM [Comissão de Valores Mobiliários] vem flexibilizando regras para facilitar a atuação das empresas.” Guerra sublinhou alguns efeitos imediatos da adoção das ferramentas de comunicação remota no dia a dia dos conselhos e comitês com os quais está envolvida. “Notei que há uma maior disciplina dos membros em termos de pontualidade, mais objetividade nas colocações — as reuniões têm terminado até antes dos horários previstos — e um maior preparo anterior aos encontros”, relatou, dizendo ainda que essa dinâmica, no futuro, vai favorecer a disrupção e a inovação.

Em sua apresentação, Setubal falou um pouco de sua visão sobre o papel dos conselhos de administração diante da crise. Para ele, a questão de base é o alcance de uma boa relação entre o equilíbrio e o crescimento da economia global. Nesse sentido, os conselhos precisam tratar de expansão com responsabilidade social e ambiental, monitoramento de impactos das operações, solução de problemas socioambientais, eventuais mudanças nos estatutos sociais, elevação do padrão de transparência e definição de um propósito claro. “A empresa deve ser melhor para o mundo e não a melhor do mundo, e cabe aos conselhos implementar essa nova cultura, esses novos compromissos”, definiu.

Carazzai, por sua vez, tratou do mercado de private equity, no qual as ferramentas de governança são bastante importantes dada a proximidade entre investidores e investidas no que se refere ao rumo dos negócios. “Podemos sim imaginar que as empresas entenderão que a comunicação com o mercado e com a sociedade é fundamental”, afirmou. “Esse segmento deve convergir para um pós-crise com uma governança melhor”, comentou Luz, que apresentou dados sobre esse segmento no Brasil. No ano passado, segundo a Abvcap (entidade que representa essa indústria), os investimentos em private equity somaram cerca de R$ 13 bilhões, com crescimento de 70% sobre o ano anterior e com aumento também na quantidade de empresas investidas.

Uma outra tendência que deve ganhar força no atual cenário é a ampliação do uso das ferramentas de inteligência artificial (IA) na operação das empresas — e também nas dinâmicas dos conselhos de administração. Carazzai chamou a atenção para o fato de os hábitos dos consumidores terem mudado rapidamente com a pandemia e para a ajuda que pode vir da IA para a identificação e monitoramento desse fenômeno. Entram nesse ponto os aprimoramentos de portais virtuais de conselhos de administração, com uma nova modelagem dos conteúdos que as empresas apresentam aos conselheiros.

Como mensagem final dos palestrantes, o mediador pediu uma avaliação sobre o que seria o novo normal da governança corporativa, seu futuro passada a pandemia. Na opinião de Guerra, uma volta ao básico é de grande valia, assim como o aumento da transparência na prestação de contas, a intensificação da atenção dada ao ESG (lado econômico junto com a gestão dos impactos externos da operação de cada empresa) e uma chamada à flexibilidade, de forma que proporcione musculatura para enfrentar o que está adiante. Ela concorda com a necessidade de melhora dos portais de governança corporativa, ainda carentes de uma aplicação plena de IA. Monforte questionou se haverá um novo normal permanente, citando uma frase de Platão: “A verdade melhora a realidade”. Segundo ele, a pandemia evidenciou a vulnerabilidade e a interdependência a que todos estamos sujeitos. “Esse novo normal seria um pouco do que já vinha acontecendo, mas mais rápido.” Especificamente em termos de governança, ele acredita que fica ainda mais indispensável o engajamento dos conselhos e dos conselheiros.

Na avaliação de Carazzai, a crise reforçou a necessidade de se aprender sempre, com humildade intelectual. “É preciso revisitar valores, que dão suporte aos princípios. A pandemia parece representar uma megametáfora: devemos seguir adiante tendo como guia um farol baixo, só de vez em quando podemos usar o farol alto”, completou. Para Setubal, a crise do novo coronavírus intensificou a necessidade de as empresas priorizarem as pessoas, por meio de comunicação eficiente, apoio psicológico a colaboradores, parcerias com clientes e fornecedores, gestão adequada de caixa e bom relacionamento com a sociedade. “E de um novo propósito”, concluiu.

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